sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Outono - Parte II

Ela respirava o ar gelado e lembrava o quão bom tinham sido aqueles últimos dias. Não de uma forma triste, de arrependimento e sim daquela lembrança feliz. Todo o aprendizado daquele tempo estava guardado em seu coração e mente. Havia aprendido a questionar, aprendeu humanas, como o homem se comporta; as ciências e os hormônios e impulsos do coração, até exatas, quando o copo caiu e quebrou.
Ele havia lhe ensinado muito e o que mais ela guardou além do aprendizado foi o amor e a cada dia aprendia a amá-lo mais. Toda a sabedoria adquirida, todo o ar respirado até então seria guardado, até mesmo aquele ínfimo suspiro.
Sentado na pedra a solidãoi arranjou uma amiga: a angústia, e também uma inimiga: a felicidade; ambas chegaram com frieza a pedra. Ele trouxe então o passado ao presente esquecendo-se que sempre trazia o futuro ao presente. Retornou às cenas que houve brigas, discussões, do dia em que acabou... do copo quebrado. Retornou aos dias que, todos, foram vividos com intensidade. Aos beijos dados e erros cometidos. Aos abraços enlaçados e discussões ganhadas.
Mas, de que vale se lembrar que fomos heróis, que vencemos, se o vencedor também saiu perdendo, o tempo passa como se esquecesse que ele fosse importante e assim corre.
Anos se passaram naqueles minutos em que ela esteve sentada apenas pensando em tentar e tentando em pensamento. Talvez quem sabe juntar alguns cacos de vidro e construir um outro copo sem importar o motivo que ele foi quebrado. Seu nariz lhe lembrava que já estava frio suficiente para ficar ali e resolveu ir a algum lugar quente e aconchegante, um lar.
Ele não se achava um herói, até porque perdeu uma das mais preciosas formas de seu sentimento. E se alguém perdeu algo, pode achá-lo. Mas percebeu que podia ser tarde e que se encontrasse não estaria do mesmo jeito, melhor ou pior, mas ele teria que descobrir, tentaria pelo menos. De nada adianta um pulôver vermelho se não pode empresta-lo a ninguém. Resolveu procurar.
Em sua queda no mundo real percebeu que seu lar estava bem atrás dela, sua idéia materializada distante daquele mundo mas ao mesmo tempo próximo de seu sentimento. Queria tocar, cheirar, apertar e provar que era real para saciar sua saudade e felicidade de vê-lo. Mas preferiu observar, às vezes é gostoso apenas olhar e guardar cada traço da pessoa que se ama, como uma pintura.
Guardou aquele olho pequeno e escuro, brilhoso como a estrela no céu do seu imaginário, cada perfeito defeito natural de seus cílios e sobrancelhas: seus lábios rosados rachados de frio pedindo carinho e cuidado; e os ouvidos prontos para ouvir qualquer melodia, qualquer palavra ríspida. E o conjunto: pronto pra correr 10 quilômetros, mas seu coração, fraco, não agüentaria nem uma palavra de ódio.
Ficaria ali pela eternidade mas só durou um minuto. O incrível é que sabemos quando somos observados. Certas vezes até deixamo-nos ser, é agradável. Mas quando surpreendemos o observador é melhor ainda, principalmente quando o observador é quem você queria observar.
Ele não olhou já conhecia cada detalhe daquela delicada face, queria abraçá-la, beijá-la, (olhá-la também, mas a emoção é tanta que não se segurou), conversar...

2 comentários:

Ninguém disse...

Incrivel como um minuto pode durar uma eternidade
Incrivel como o amor transforma qualquer defeito na mais pura virtude
Incrivel como nos fazemos seres mais elevados quando nos deparamos com isso!
Belissimo texto!

Reverendo FerAuZ disse...

Bacana o texto!!!!
Bem filosofico e introspectivo, bem aquele momento qdo lembramos dos ultimos anos que se passaram.