domingo, 12 de agosto de 2007

Pai: amor ao cargo ou à pessoa?

avatar Hoje é dia dos pais e, portanto, é esperado que eu fale sobre essa função familiar. Pensei em fazer diferente para ser menos clichê, mas não deu.

“Função familiar”: é isso mesmo. Ser pai é um cargo que muitas vezes é acumulado à função de mãe, avô, padrasto e etc. Exige compromisso, responsabilidade e obrigações, muitas obrigações.

O currículo do meu pai deixava a desejar. Divorciou-se de minha mãe quando eu tinha apenas três anos. Aos poucos foi se afastando do convívio familiar, os finais de semana passados juntos foram rareando e as datas comemorativas ganharam o peso da obrigatoriedade. Sim, ele foi um pai ausente e minha mãe acumulou funções.

Ele faleceu às vésperas do Natal de 1999. Tentei matá-lo dentro de mim muito antes, mas coração de filha é teimoso e insiste em se importar. Eu odiei meu pai por sua ausência porque amava sua presença que era mágica, e eu acreditava que ele não tinha o direito de me privar de sua magia.

Quantos pais chatos, intransigentes e arrogantes eu conheci entre minhas amigas! Eles estavam lá todos os dias preenchendo a memória delas com aborrecimentos e mágoas. No entanto, eles estavam lá. Cumprindo com suas obrigações, educando, ensinando, fazendo o que acreditavam ser o melhor para elas. Mas quem se importa com tudo isso? Elas se importavam?

Meu pai falhou nesse quesito, mas não lembro sequer de um momento em que tenhamos brigado, muito pelo contrário, eu guardo com carinho todos os momentos em que passamos juntos. Lembro das gargalhadas, implicâncias, brincadeiras... do primeiro passeio na montanha russa, do meu primeiro filme de terror, do Atari, Balão Mágico, da diversão na hora de almoçar, das pizzas, dos passeios de charrete na “Praça dos Cavalinhos” e lembro...

Lembro principalmente do modo como eu o obedecia. Nunca ouvi um “não, porque não quero”. Tudo tinha um porquê que era explicado e explicado novamente até que eu compreendesse. Eu o respeitava. Não porque ele exigisse respeito, mas porque era um homem respeitável. Eu o amava. Não porque ele cumprisse suas obrigações de pai, mas porque era meu amigo.

Uma vez contaram coisas ao meu respeito para criar intriga. Soube que a resposta dele foi: “ela sabe o que faz” e o assunto morreu. Ele era assim. Confiava em mim e eu nele.

Volto então a perguntar: minhas amigas se importavam com tudo aquilo? Elas amam realmente os seus pais pelo que eles são ou apenas pelo cargo que ocupam? Quando eles as deixarem, quais serão as memórias guardadas?

Nesse domingo comemorei o dia dos pais ao lado de minha mãe não somente porque ele não está mais nesse plano, mas porque ela foi meu verdadeiro pai. Quanto a ele, deixo pra comemorar no dia do amigo, pois ele foi um amigo e tanto.

** por Cris

2 comentários:

André Luiz Coutinho disse...

Realmente se formos parar pra pensar... é aquele proverbio popular alterado, "pai é quem cria"! No meu caso eu posso dizer que tive 3 pais! Meu pai de verdade que mesmo separado da minha mãe sempre se preocupou comigo, meu avô que sempre cuidou de mim e tbm o meu ex-padrasto, que me educou!!!

Bjão!!!
fui...

Afonso disse...

Ahá!!!

E eis que descubro, que (em certo nível) a senhorita também se rendeu ao fabuloso blogspot! AHaHAHAH!!!

Viu viu viu?! :P

Ainda vou comemorar o dia dos pais. Mais tarde em um almoço, muito provavelmente. Meu véio é um cara meio complicado, mas eu tenho a sorte de amá-lo tanto como pai quanto como amigo.

P.s.: Show de bola o blog, Cris. Virei freguês!! ;)