sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Outono - Parte I

Não sei porque escolhi começar por hoje. Talvez porque começar por um dia que já passou não é das melhores escolhas. Por isso afirmo e aprovo o começo por hoje! E, como o hoje ainda é hoje não posso dar um fim a esta história.

A manhã deste dia é a mais longa do mundo. Os olhos pesados e embriagam e me levam a um mundo paralelo. Quando sóbria fico mais sabia e sonho com a cama. Ficando num circulo vicioso percebo que meu sonho não me deixa viver, não me deixa aprender, nem pensar. A tontura me faz misturar todos os pensamentos: coisas boas, ruins, que vão acontecer, que me aconteceram, crio situações. E nesse teatro das ilusões me pego dormindo, me deparo com uma cena.
Ela caminhava no parque com seu casaco grande que mais tarde viraria um edredom. Naquele dia chuvoso (apenas agradável) e frio toda sua vida era repensada: o modo de vivê-la, o modo de esquecê-la. Um dia de cara triste e não por isso ele se completava a face dela. Seu rosto estava normal. Nenhum sentimento exaltado, nenhuma abstração para contar. E o que estava trancado em seu coração não precisa ser comentado. Ela estava bem.
Enquanto isso, no mesmo parque, uma outra mente, com quase os mesmos sentimentos caminhava com um pulôver vermelho. Ele tinha companhia: a solidão. Caminhavam de mãos dadas conversando e contando seus sentimentos.
O cenário completava o espaço. Aquela tarde de outono deixava o chão com folhas já amareladas e as árvores tão hepáticas quanto o chão, até m pouco desfolhadas. Um dia frio, um bom lugar pra ler um livro, mas o que importa agora era pensar. Ela seguia então o tapete amarelo chutando-o e desmanchando-o durante o seu trajeto ate encontrar uma pedra que dava de fronte a um lago.
Parou e percebeu que já tinha andado bastante debaixo daquela chuva fina. Posicionou-se na pedra de modo que seu corpo ficou em posição fetal como se esperasse nascer de uma nova idéia, de uma esperança. Seus cabelos estavam congelados, não se moviam. Uma mecha jogada no rosto dava o aspecto de desarrumado. Sua boca discutia, conversava, argumentava e ria com ela.
Ao mesmo tempo, o pulôver continuava a caminhar pelo túnel de árvores amareladas. Cabeça baixa, mãos para trás, cabelo desarrumado como de costume, olhos no chão como a procura de um tesouro que pegue sua companhia e a leve embora. Percebeu que havia um caminho aberto que se podia ver o chão, não só folhas e seguiu-o como se aquele fosse o caminho para “oz”, e mesmo sem a ajuda do homem de lata (que queria um coração para também sentir a tristeza) achou uma pedra e sentou-se. Percebeu a frieza da pedra e o ambiente sentiu o gosto da frieza dele.
O lugar fora ignorado pelo rapaz: o lago às suas costas, a garoa, só o gelado da pedra chamou a sua atenção.

Na próxima semana o resto da história...
** Por Nathália Marsal

Um comentário:

Tarzan ® disse...

Parabéns pelo blog.
Textos muito bem escritos.
Sucesso.

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